onde param os peões?

Um dia destes ia a sair de casa e vejo uma senhora a atravessar a rua uns bons metros mais acima. Vinha nas calmas e perto dela estava a chegar um carro. O carro foi-se aproximando e quando estava a pouquíssimos metros apitou...mas não foi PI (aviso) foi um PIIIIIIIII...sabem, daquelas buzinadelas que até são proibidas ;o) estão a ver....

"Mas que raio, qual a razão de tamanha brutalidade sonora?" - disse

"Então, esta malta adora molengar na estrada...ia mesmo a meio...não sabe atravessar na passadeira" - resposta de um amigo meu.

Mas onde estamos a chegar? qual o lugar de um peão numa cidade? é nos micro-passeios e nas micro-passadeiras, sempre a olhar para todos os lados para não ser atropelado? é num quadradinho verde, outrora descampado que a autarquia decidiu jardinar para o gaúdio desta raça estranha, minoritária e mimada que são os peões?? sim esse bocadinho com relva e uma tabuleta "proibido pisar"!

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Em Londres, a Oxford Circus - talvez o largo do rato lá do sítio ;o) - é uma das zonas onde há mais travessias de peões, foi redesenhada. Das vezes que lá estive lembro-me das "cercas" com publicidade que impediam a livre circulação dos peões (uma técnica tb cá usada) obrigando-os a utilizar as passadeiras existentes, tudo muito regrado com alta poluição sinalética.


Continuando as excelentes políticas de redução de volume de tráfego, diminuição das velocidades praticadas pelos veículos motorizados e dar prioridade ao peão, decidiram usar o exemplo japonês de atravessamento diagonal. (para quem apenas conhece o lado orgulhoso britânico, fica a conhecer a faceta de benchmarking, de conhecer boas-práticas e aplicá-las. Conheci de perto esta prática no departamento de desenho urbano da cidade de Leicester onde realizei um projecto e recentemente o dep. de tráfego fê-lo para diminuir a sinistralidade rodoviária, copiando o exemplo da França, etc.).


Em Tóquio, Shibuya é onde existe o maior tráfego pedonal do mundo. (Imagino a condutora do carro que exempifiquei no princípio do post neste sítio!!). Na ligação do cais ferroviário para o cais fluvial do interface do Cais do Sodré, a passadeira (??) tb é bastante concorrida, sendo normalmente os ditos condutores profissionais, os taxistas os condutores que mais pressionam os peões.



Ora para gerir este tráfego todo tem de haver mestria (ao contrário das passadeiras terríficas de Lisboa onde a mortalidade deve roçar os ataques suicídas no Iraque)...


Primeiro em Oxford Circus tiveram de retirar todos os pilaretes, mobiliário urbano mal colocado, cercas publicitárias, toda a parafernália que "conduzia" o peão como gado, criando os gargalos ou "bottlenecks" nas passadeiras perpendiculares e nas entradas para o metro. Os passeios foram alargados, afinal tinham que albergar 30.000 peões em horas de ponta.



A praça transformou-se num gigantesco passeio e são os carros os intrusos (Épá..a tal condutora do carro que exempifiquei no princípio do post, já se está a benzer toda!!).

Agora é que entra a experiência Japonesa: Quando o semáforo fica vermelho, os carros param em todas as direcções e o sinal para os peões fica verde também em todas as direcções é o "pedestrian scramble". Durante 30 segundos os peões podem atravessar a praça em qq direcção, na diagonal, como desejem, em vez de terem que ficar parados e atravessar aos bochechos (O blog do menos1carro reporta bem esta questão mas não encontro esses posts). Deste modo o tráfego pedonal torna-se mais eficiente, aliviando a carga e evitando a sobrecarga.


"Se daqui até à entrada do metro são 100 metros fazendo a hipotenusa, pq tenho eu de fazer 150 metros dos catetos" - diria Pitágoras :o)

Ou como disse o mayor de Londres: "This project is a triumph for British engineering, Japanese innovation and good old fashioned common sense. The head scratching frustration caused by the previous design is over and we've brought one of the world's greatest crossroads into the twenty first century. Being able to cross in an oblique rather than a perpendicular fashion will make Oxford Circus incredibly more efficient for the millions of pedestrians and road users that use the crossing every year."

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