Kayakweru (Casa de todos em dialecto Shangaan)

Retirado do fabulástico BLOG do Nomad Renato Braz

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Quanto a mim, o que me desafia e dá adrenalina (daquela tipo long drink e não em shot) são as viagens. Mas viajar não é, para mim, atravessar o mundo e ir enterrar a cabeça na areia de uma qualquer estância “exótica” de luxo. Viajar, como apreciar um bom tinto, implica escolher, cheirar, beber, saborear, deixar que se difunda em nós e, por fim, assimilar o que interessa e eliminar o que não. Novamente, como um bom vinho viajar por vezes sabe bem só porque sim. Mas na maioria dos casos, deve ser tido como complemento de algo.De facto, sempre que fui de férias só por ir de férias, não consegui a completa catarse do cansaço e dos problemas do ano. Por isso, durante o ano procuro desenvolver um projecto a executar (/desenvolver) nas férias. Normalmente, em conjunto com um grupo de amigos, escolhemos/ traçamos um objectivo, estudamos a sua viabilidade e, depois, deliciamo-nos com os preparativos. Os desafios são tantos que, durante o mês das férias, nem muito ao longe me passam pela cabeça os problemas do trabalho, da família ou da universidade.Claro que também me sabe bem o dolce faire niente, mas para isso não é preciso ir para o outro lado do mundo. Acreditem! Em Portugal, somos muito bons nessa arte. Basta um fim-de-semana sem stress, junto ao mar, com um bom livro e... já está!Já para férias “a sério”, ajudar a restaurar templos budistas na Mongólia, contribuir para a preservação de uma barreira de recife, ou atravessar o Sahara numa complicada missão logística para entregar medicamentos no Senegal são interessantes exemplos de actividades que se podem desenvolver. Com base na minha (ainda) curta experiência, descobri que vivemos muito de estereótipos, de preconceitos e de mitos impostos pela comunicação social. O mais assustador é que, apesar de cada vez viajarmos mais, pouco aprendemos sobre os locais para onde vamos. Limitamo-nos – como dizia Miguel de Sousa Tavares – aos programas de alegria programada e de felicidade comprada a prestações onde só vemos/conhecemos o que nos querem “vender” e, no fundo, não aprendemos nada sobre as comunidades locais, a sua cultura, os seus problemas… até a economia local é pouco estimulada, pois o grosso dos lucros vai para as estâncias de luxo de grandes grupos financeiros.A alternativa, baptizada por outros povos – talvez mais conscientes – de turismo responsável, baseia-se em oferecer algum do nosso tempo e talentos, contribuindo para o desenvolvimento de um projecto social, cultural ou ecológico num país com poucos recursos. Esta abordagem é também muito enriquecedora para o turista que, desta forma, ingressa efectivamente numa comunidade, apre(e)nde o lugar, a sua cultura e suas gentes.Estas experiências mudam o modo como vemos o mundo e levam, por vezes, a importantes descobertas sobre nós próprios. O que experimentamos e aprendemos fica totalmente imiscuído/imbuído em nós, influenciando o modo como vivemos, pensamos, sentimos... e em sentido mais lato, alterando a nossa filosofia de vida.Se muitas pessoas entenderem esta visão, os resultados poderão ser assinaláveis. (OU: Quanto mais pessoas interiorizarem o verdadeiro significado da palavra ‘viajar’, mais assinaláveis poderão ser os resultados das viagens…)Os interessados poderão utilizar o potencial da Internet para procurar mais sobre o assunto."

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